31/10/2006

Vovô Serra... sou eu nananinha


Boa noite:

Como reparam pelo meu desmazelo, ando sem tempo para nada. Mudei de emprego e estou a começar agora como técnica de intervenção local (é este o meu acrónimo: TIL) no PIEF do SEixal isto é, uma medida governativa que impele jovens quase no fim da linha a regressarem à escola e a certificarem os seus conhecimentos prevenindo o abandono escolar e o trabalho infantil. É bastante interessante, mas ando de rastos e muito cansada.

Amanhã não vou estar por cá, pois desde há dois anos que este dia tem outro significado para mim, além de mero feriado. É um dos dias em que tenho de ir visitar a campa onde o meu avô está sepultado. Mal sabem que não preciso nada de ir lá para que pense todos os dias no meu avô. Mas vou na mesma. Vou por que gosto e porque quero e porque sim. Penso (como penso agora) no último dia das bruxas que vivi com o meu avô. Uma peixeira no continente foi mal educada comigo (só porque me deram outra senha mais próxima do atendimento, sem que a tivesse pedido, atenção e a peixeira topou). Ela atendeu toda a gente e deixou-me a mim no lugar da minha senha anterior. O meu avô foi falar com a responsável mas pouco adiantou, pois ele era sempre tão querido...estava tão triste de me ver a ser assim tratada e sem poder fazer nada (ele não conseguia ser mau para ninguém). No regresso a casa, ele diz-me: agora é que estou aqui a pensar: hoje não é dia das bruxas? pois eu não acredito nelas, mas que as há...há e rimos os dois até casa. O segredo estava entre nós os dois, mas de certeza que ele não se importa de o partilhar com todos.
Vovô - tenho saudades de chamar por ti (e derrepente os meus olhos ficam brilhantes e sei que isso é a tua resposta): mas eu estou aí.

Ainda hesitei em colocar aqui a tua imagem. Mas se a voz que tens em mim, estivesse no teu corpo ainda, por certo adorarias a ideia. E eu estou a cumpri-la por que te quero sempre.

28/10/2006

Kika - a culpa da minha boa sorte é tua


Este post é dedicado à minha amiga Kika que me falou sobre o mau "fengshui" (não faço a mínima ideia do que estou a dizer) que um bonsai morto pode provocar no seu proprietário. Não durou nem umas horas a que metesse o pobre morto num saco de plástico do pingo doce, com terra e tudo.

Não durou mais do que umas horas para que a minha vida profissional desse uma reviravolta dos diabos.

Kika, adoro-te.

26/10/2006

Friends - série oeste


Tenho tido tempo de falta.
Mas não queria que o tempo me perdesse
Por isso, antes que seja escrava do tempo
Interrompo o tempo que não tenho
Faço-lhe uma espera simples e lixada
E saco-lhe isto...


Aqui ao lado somos nós em sessão fotográfica, em plena tarde de Domingo, entre uma paragem breve da chuva e uma pose mais forçada da Sôdona Brigite.

Como não ter tempo?
Reparem com tempo nas minhas mãos de santa e nos meus joelhos, meio flectidos e meio encolhidos - dificilmente poderia sair pior e na obrigatoriedade da Brigite, que não gosta da paragem (tempo, lá está) exigida pela máquina que dispara. O resto, um primor.

18/10/2006

Quaisquer coisas

Começo a escrever por missão. Sinto que o devo aos 106 visitantes que já recebi na minha casa virtual. Já podemos acender e apagar em conjunto as velas de um mês de residência, nem sempre dedicada, nem sempre fiel.
Já podemos cortar uma fita (verde, por favor) que nos abre para uma casa bloggo-visito-centenária.

Sinto-me com maior responsabilidade, mas a verdade é que o meu trabalho actual deixa-me esgotada no final do dia. Chego quase sempre com a cabeça a tilintar entre movimentos rectilíneos e de projectéis, entre geometria euclidiana e bases da geologia, entre ditongos e gramática do inglês, do francês, entre cadernos de linhas duplas, entre canetas e borrachas (que mania que eu tenho de ser eu a apagar os cadernos aos meninos, tal como a minha mãe me fazia a mim).
Tenho comigo um arsenal de instrumentos, que aos olhos de outra pessoa, mais pareciam os de um palhaço.
Nos dias dos meninos que não estão virados para a leitura - transporto comigos instrumentos musicais. O xilofone é o mais divertido, pois ajuda na conceptualização de ditongos e na aprendizagem das sílabas. A princípio os miúdos ficam excitadíssimos por poderem ir fazer barulho e pôr a casa em pulvorosa. Depois acalmam e percebem que o piano de madeira está ali para ajudar.
Há dois tipos de miúdos. Os entusiasmados e os nem por isso. Os entusiasmados são miúdos que têm famílias entusiasmadas com eles, que sabem que a escola é boa e faz bem à saúde. Não quero com isto dizer que são os mais fáceis, pois também estes têm muitas dificuldades. Mas destes a pessoa sai com o coração cheio, a pensar: Será que eu estou mesmo a ajudar esta pessoa a sentir-se melhor consigo, a sentir-se feliz por estar a aprender? por estar alguém a olhar por ela, nem que por apenas duas horas na semana?
E depois há miúdos pequeninos que dizem, Catarina, quantos dias faltam para vires outra vez?
Mas também há quem diga, Ah, já estou cansado Catarina, mais não... e os que dizem, Que burra, burra que eu sou, a apontar para as suas cabeças. E depois há os deprimidos: Ah, isso eu não sei fazer, por acaso disso não gosto, não, acordar cedo, não, comer? não, não almoço nunca, Por acaso ao cinema não vou, não leio livros, não, não fiz o que combinámos, não, não, não sei e não percebo, não gosto, não me interessa. Nunca fiz, não tenho, não conheço, se eu tenho interesses? assim derrepente, não estou mesmo a ver...
E mesmo destes eu saio a pensar que fiz qualquer coisa aceitável - a minha auto-estima é uma jóia de moça, nunca me deixa ficar mal.

Não, não me quero justificar com os miúdos, mas a verdade é que me estou a justificar de alguma maneira. Assim seja, pronto.

A minha begónia não gosta do sol no meu quarto e vai morrendo lentamente ao meu lado, como que a seguir as pisadas do meu bonsai que, morto, permanece no parapeito da minha janela, numa evidente negação do seu (não) estado. Durou quase três anos mas, para ulmeiro, merecia mais. Se calhar não fiz o suficiente e sinto-me um bocadinho a sua assassina. Para cúmulo os seus tronquinhos até ganharam uma cor nova, avermelhada, como se de uma sangria de última hora se tratasse de molde a evitar o inevitável. Como se fosse humano derrepente.

Ontem percebi que o meu pé tem formato 33 e enfureci-me muito por isso. Vi uns sapatos de que gostei muito e decidi encomendá-los no número que até ontem eu julgava corresponder aos meus pezinhos: 35. Quando regressei à loja, pronta para levar o par e dá-lo a conhecer os seus congéneres na minha casa, experimentei-os quase como um proforma, como quem diz, tem mesmo de ser, não é? Quando os calço, reparo que cabiam lá dentro não só os meus pés, como os pés de um gigante (pronto, um gigante acabado de nascer). A empregada aprontou-se a dizer que eu calçava um 33,5, mas eu não me deixei ficar. Quem era ela afinal? A notícia não se dá assim de um momento para o outro. Disse-lhe, mas acha mesmo que a forma destes sapatos é que dita o verdadeiro número de uma pessoa? Ela calou-se e olhou-me de soslaio. Vai ver se a fábrica faz de encomenda uns sapatos de nipónica, mas não garante. Apetecia-me mandá-la, mas resfriei os meus azeites com um paradoxal obrigado seco.

Assim de futilidades, não estou agora a ver mais nada de repente.
Amanhã o meu dia começa em Pêro Pinheiro e termina em Almargem do Bispo. Venho comer a casa. Ainda não mudei a roupa do guarda-vestidos do Verão para o Inverno, porque não tenho um closet. Leio cerca de 3 páginas por noite do "D'este viver aqui neste papel descripto" e sonho em receber cartas do meu namorado.
O meu gato passa sem exagero nenhum 80% do tempo útil (isto é, de dia) a dormir. De noite, sei lá, deve acender a televisão e dar umas cachimbadas - algo de proíbido há-de ser...
Fui ao Moreno Cabeleireiros num dia de neura e saí de lá mais pobre. Jurei para nunca mais.
Hoje a professora da minha faculdade, com quem tenho colaborado e com a qual vamos apresentar um poster no Simposium de Évora, deu-me um livro! Chama-se "O que os iletrados nos ensinam sobre os testes de inteligência". Fiquei contente.
Hoje o dia não correu mal. Namorado, telefona, senão vou continuar a escrever coisas. De interesse duvidoso.
A porta continua aberta. Sempre bem-vindos são. E mais a pena cantara, a poder mais.

14/10/2006

Sem título

Musicário III: o começo de tudo ou lucy in the sky with diamonds


Estávamos no ano de 1989. É verdade, deve ter sido mesmo por aí. Eu andava no 6º ano e a minha turma era porreira. Sobretudo, muitos dos meus amigos tinham irmãos mais velhos e isso acabou por se revelar fundamental. Entre umas bolas fantásticas inventadas pela Inês (compostas de aparas de lapiseiras grossas - estão a ver quais são? aquelas cujas minas têm para aí uns 2mm de diâmetro? - e muita cola) nós também ouvíamos música nos recreios.

Mas primeiro explico as bolas: uma das minhas amigas da altura, a Inês, tinha uma lapiseira, que ela afiava constantemente. Ao afiá-la produzia-se um pó de carvão com uma consistência perfeita para que, quando misturado com cola UHU, se formasse uma pasta consistente e moldável. As bolas avolumavam progressivamente. No fim do ano lectivo ali estava aquele objecto amorfo e pesado, mas totalmente inventado por nós, aliás, pela Inês - que não dava tantas mostras da sua inteligêngia prática nas aulas e de quem cheguei ainda a experimentar a pesada mão (ela era o dobro de mim e sabia-o).

Mas entre brincadeiras parvas nós estávamos ao mesmo tempo a abrir-nos para o mundo (ouvidos incluídos) que se nos deparava e no qual a professora de Inglês teve uma influência considerável quando nos dava letras d'Os Beatles para acompanharmos com o seu gravador velhinho.
Quem trouxe a cassete foi a Inês (retirada da colecção da irmã mais velha). O Pedro Santos retirou delicadamente ao irmão (mais velho, também) o gravador da casa de banho e combinou-se o encontro para o sítio mais escondido do recreio, a uma hora certeira. Nesse dia até nem houve aulas. A Inês deu a cassete e o Pedro Santos pô-la no gravador. Ele ensinou-nos a dançar Beatles. Dançávamos como parvos, num formato imitatório e quase robótico. Aprendemos as letras de cor e continuámos a dançar. Não por muito tempo, por que depois o ano lectivo terminou e eu sai deste colégio.
Mas penso que sem este empurrão inicial eu não seria nada...musicalmente falando.
Por isso, claro está, só poderia deixar aqui, como musicário original: Penny Lane.

08/10/2006

Gosto de pensar que os objectos têm um coraçãozinho que bate e tudo















Domingo de manhã, jardim das Caldas:
Entra-se, como se de um jardim encantado se tratasse. A maioria das pessoas que passeia no jardim não quer saber ou ignora o que se passa no círculo formado por enormes copas de árvores e que serve de abrigo ao encontro de pessoas e coisas. Entrei como se de uma irmandade se tratasse. Afinal, ninguém estava ali por acaso.
Uma feira tem pessoas que querem vender coisas (umas a todo o custo, outras, nem por isso), tem pessoas que querem comprar coisas (umas que sabem o querem e outras nem por isso) e depois tem as coisas.
Eu andaria mais ou menos a esvoaçar por entre umas e outras. Gosto sobretudo de observar os objectos e às vezes mexer-lhes. Fiquei enamorada por um gato enorme de terra-cota, esculpido por uma família das Caldas, por um fio de prata com aplique em cachos vermelhos e por um trompete dos bombeiros. (Ando louca à procura daquele cubo mágico, ainda se lembram?)
O que trouxe foi o que a minha carteira deixou: uns lápis de carvão intactos e acondicionados numa caixa de cartão, com a marca da fábrica Koh-I-Noor. Esta era uma fábrica da Checoslováquia (antes da cisão dos dois países). Também havia caixas de lápis da marca Viriato, muito bonitas mas também eram bastante caras.

A primeira coisa que vi na feira foi este par amoroso, aos quais me apeteceu desde logo chamar tirolesinhos: um menino do sal e uma menina da pimenta. São de uma marca de cerâmica alemã: W.Germany, que me faz pensar de imediato que também estes dois enamorados já apimentavam os pratos de muitos alemães, numa alemanha dividida por temperos e tudo o mais.

Com estes consegui regatear o preço: eles custavam 25€ (faz-me impressão dizer o preço, perde um pouco a magia). Disse ao senhor que só tinha 22€ e ele aceitou.

Comprei ainda um buda minúsculo que tinha escrito sorte num autocolante, na base (e eu acreditei...). Provavelmente sem aquele autocolante, o buda não teria qualquer efeito em mim. Este espécimen custou-me uns avultadíssimos 0,50€. Ainda hesitei, mas decidi passar cheque e não pensar mais no assunto.

Depois fica o resto. Ficam as coisas que tiveram a sorte ou o azar de não virem fazer parte das minhas coisas. Ficam aquelas para as quais olho e não gosto e ficam aquelas que vou aprendendo a gostar. Agora sou fã de bric-a-brac: pequenos objectos em cerâmica, um tanto ou quanto pirosos, mas que me fascinam.

Levei Frau e Fuer (é assim mesmo?) bem aconchegadinhos na minha mala, junto com os lápis checoslovacos. Aquele papel das bolinhas é imprescindível para quem anda à caça de preciosidades. Lavei-os com lixívia (pois ainda continham restos da sua última utilização: ela tresandava a pimenta e ele ainda tinha uma pedra de sal nos intestinos); não dá para ver na foto mas eles têm uma tampinha na base e quando os lavei o menino parecia que estava a fazer um cocó de sal.

Tive cuidado com a lixívia , pois eles têm um banho de prata (nos pézinhos e no chapéu) e depois de secos coloquei-os em lugar de destaque no meu quarto. O menino parece estar hesitante em dar uma flor à menina, que parece não ter vergonha nenhuma.

Agora que cuidei tão bem deles, tão acondicionadinhos no aconchego do meu lar, custa-me pensar que alguém os utilizou de facto e penso logo em trabalho infantil e em exploração humana (sim, porque para todos os efeitos, quem os utilizou, abria-os, penetrava-os com um pó e depois, de cabeça para o ar, sacudia-os veementemente. Como foi possível?
Eu imagino as torturas dos últimos tempos do menino, com uma pedra de sal no intestino (que não se desfazia nem por nada) e o seu explorador, a ver-se impotente para salgar umas salsichas ou uma carne de porco muito bem passada. Virado de cabeça para baixo a ver a comida ao contrário, com medo que o chapéu lhe caísse e a sentir uma pedra de sal junto aos buraquinhos da cabeça, sem nada poder fazer.

Estão em paz, agora.
E isto faz-me lembrar o dia em que comprámos uma nova árvore de Natal, com o triplo do tamanho da nossa antiga e me foi incumbida a tarefa de deitar a árvore antiga no lixo. Estava frio, era quase Natal e eu ainda fui até ao lixo da rua, mas não consegui deixar lá a árvorezinha. Trouxe-a para casa, quase a chorar, com a culpa do que quase ia fazendo e a pensar no que lhe poderia ter acontecido, a passar os restantes natais que lhe sobrassem ao pé de espinhas de peixe e pensos higiénicos e batatas cozidas e cascas de cebola e molhos com alho, a servir de enfeite. Ainda hoje está connosco (no sótão, mas isso não interessa nada).

Por isso, gosto de pensar secretamente que os objectos têm um coraçãozinho que bate e tudo

07/10/2006

Musicário II: The Tindersticks (help donkey sanctuary)


Poderá o nosso amor? Terá ele força?

Este não é "o" disco dos Tindersticks e nele curiosamente, Stuart Staples desmancha a sua voz arrastada e torna-a numa voz quase pop. Aqui, People keep comin' around, dying slowly e tricklin' são as principais pérolas.

Entretanto, esta capa faz o primeiro apelo à preservação de burros que viria a ser uma constante do imaginário tinderstickiano e que me fez venerar ainda mais esta banda de Nottingham.

Albuns tinderstickianos para ouvir em repeat: First e Second Tindersticks Album; Curtains; Waiting for the moon e Trouble Every Day.

Voltarei a eles, com toda a certeza.

06/10/2006

Procópio: aprender a gostar


Esta é uma imagem do Bar Procópio à luz do sol.
Não é com esta luz que o costumamos visitar, mas a sua luz é igualmente brilhante. Já nem sei bem como tudo começou: queríamos um espaço onde nos pudéssemos reunir semanalmente, para estar, para rir, para dizer que éramos amigas, para dizer simplesmente; dizer coisas que só se dizem à luz de candeeiros (que parece que já dão a mesma luz à séculos) e de abat-jours cor de carmim.
Escolhemos um espaço à nossa altura. Somos como que recebidas em casa de amigos: tocamos à campainha e o empregado (nome que aqui resulta muito mal, pois nunca o sentimos como tal) abre-nos a porta com gentilieza, quase a convidar-nos para a sua sala de fumo.
Não estamos entre iguais. o procópio é muitas vezes frequentado pela nata intelectual da capital. Mas nós sentimo-nos tão iguais que vamos ficando. Com pipocas quentes substituídas ao infinito da gulodice. Parece que cada reunião é a última. Esticamos o tempo contável até ao tempo em que já não podemos ficar mais. Mas mesmo assim ficamos. E quando vamos embora, permanecemos tolas a conversar mais um bocadinho. Sempre a adiar a despedida.
Ontem concedemos aos namorados uma excepção e abrimos-lhes as portas do nosso refúgio semi-intelectual (a bem da verdade, grande parte dos nossos devaneios não dão propriamente azo a reflexões muito rebuscadas). Mas ele continuará a ser nosso.

Parecemos decididas a levar a nossa amizade em diante. Levamo-la aos ombros, mas sem qualquer esforço, como se da promessa mais simples se tratatasse.
E agora, no Procópio, até já assinamos contratos, entre daikiris e conversas mais ou menos sérias.
Eu até nem me importo com o fumo.

"O Bar Procópio possui 11 mesas e 45 lugares sentados. A sala tem uma área de 50m2 e é apoiada por copa e WC de senhoras e homens. A entrada faz-se por um espaçoso pátio com o chão empedrado à Portuguesa.

A sua decoração ao estilo «Arte Nova» entre o bordeaux e o dourado tornam o ambiente acolhedor e um local eleito para os mais conversadores.

O Procópio está localizado na charmosa e bem preservada zona do Jardim das Amoreiras, em Lisboa".

03/10/2006

Rua da Abadia - à nossa maneira




Sim, neste dia ainda tentámos fazer um remake da frontpicture homónima do LP dos Beatles. Mas a coisa não corria muito bem e optámos pela versão mais fácil. Tiras tu e tiro eu. Uma família de americanos ainda nos tentou convencer que aquela não era "a" passadeira. Eu claudiquei mas percebi que eles só queriam era tirar-nos de lá para fazer o mesmo que nós. É que ainda por cima eram 4 filhos (uns beatles autênticos) e nós, no máximo, éramos um ringo e um paul.

O que andámos para chegar aqui...depois de comer uma sopa de tomate de arrepiar, qualquer coisa seria melhor. E esta foi.

às voltas com o Matias ou como ter uma conversa de tolos

Estou a adoptar um animal (virtual) - isto parece horrível dito deste modo, mas o que é facto é que quando coloco o seu html no template desloco a barra lateral (da direita) para baixo, deixando o blogg feiozinho. Por isso, tive de retirar o pandinha por agora.
(Ele chama-se Matias e é um panda que come bambu.)
Se alguém me conseguisse dizer qual o local correcto no template para colocar o seu html, sem que ele fugisse agradecia imenso (com umas viçosas folhas de bambu, por exemplo).

Agradeço contacto de uma alma caridosa...é que o Matias está à espera, coitado.

02/10/2006

Músicário I



Hoje recomendo Ed Harcourt - esteve em Portugal a 4 de Junho no Santiago Alquimista, logo depois de Stuart Staples dos Tindersticks e como não podia ir ver os dois... optei pelo último. Fiquei com pena de não poder vê-lo.

Em especial: revolution in the heart - se não encontrarem, a Radar (97.8) passa bastante.



Este aqui ao lado é Gaspar, numa das suas poses mais fotogénicas de sempre. Está a chover e ele olha para a chuva do vidro, como que a aperceber-se de todas as leis. Eu não ligava a nada e só o fotografava.

Poemário I: Supermercado


Sim, ia para a cama ler física, mas não fui. Fiquei a pensar em outras coisas, por exemplo, na vontade que tinha de escrever isto:

Supermercado
Fui ao supermercado - abastecer-me de comida e ilusão
Da primeira vim servida, da segunda não
Pedi entrecosto entremeado por listas não de gordura, mas de paixão
Veio-me um naco farto entremeado por desgosto e salpicado com nervuras
(o talho é sempre o lugar mais difícil para me contentar)
Fui buscar fruta
pensei em maçãs (do amor)
em pêssegos (um primor)
em acerolas (um horror)
em abacate (que da fruta é um tenor)
Trouxe maçãs com bicho, mas do amor
Pêssegos aveludados, um primor
Acerolas e cebolas (e misturei-as no saco das minhas rimas)
E abacate a lembrar calor.
(O bichinho da maçã era uma lagarta bem queridinha)
Do resto trouxe produtos de higiene e não me safei nada mal
Limpar custa menos que sujar?
Trouxe lenços de papel, remédios para a tosse, remédios para as dores, champô de mel e sabonetes de fel
Trouxe gelado do coração, douradinhos de pézinhos, iogurtes de soluços e tortellini para acompanhar Fellini
Encontrei vinho de maçapão, queijo de requeijão, quiabos de agrião, pepinos de feijão, mel de furacão e pasta dos dentes de pimentão
Cheguei a casa com compras despernadas
Com alimentos trangénicos
Que não eram higiénicos
Com sacos feitos de muita confusão

Mas no final, este passeio ao supermercado da vida
que pelo menos não fecha ao Domingo
mostrou-me como é fácil fazer uma sopa de mangericão, com asas de emancipação e sobremesa de soluços e maçapão
E estava tudo tão delicioso que voltei ao mesmo supermercado
(para buscar pastéis de beterraba e chouriços de consolação)
E tudo o que encontrei foi
um buraco
onde bem feitas as contas só cabia a minha imaginação

01/10/2006

O meu blogg é um bandaid



O penso rápido tem um nome demasiado comprido. Porque não adoptámos nós o estrangeirismo "bandaid" do género, olha, tenho o coração despedaçado, tu espera aí um nico só, que eu vou pôr aqui um bandaid no coração e isto melhora já, já. Infelizmente, não é assim que se passa e o problema é que o coração dói mesmo, caramba! Vocês nunca sentiram?

A nossa frase-tipo é como? Olha, despedaçaste-me aqui um bocadito o coração, tenho de ir pôr um penso rápido (mas alguém consegue ser rápido o suficiente quando diz penso rápido?) E porque não falar na garganta? A mim, mais do que o coração aos pulos, é a garganta que fica presa (um autêntico nó de gravata virado ao contrário e a puxar-me para trás); os músculos tremem um bocadinho e os olhos são os de um carneiro mal-morto (nem quero pensar na imagem de um carneiro mal morto e a olhar para nós a dizer: porquê - que coisa bárbara, meu deus).

Seria mais fácil era se não andássemos por aí, completamente à maluca (à maluca, não, que as pessoas não podem ser assim tão cruéis, eu eu pelo menos quero crer que não - que engraçado: gaguez na escrita, nunca tinha visto...) a despedaçar os corações aos outros. Até porque, bem vistas as coisas as pessoas não despedaçam, dão uns golpezinhos, vá umas alfinetadas, aquilo se jorrar algum sangue é só se acertar nalguma artéria de renome, senão nem a cor lhe vemos.

Por outro lado, mesmo que houvesse gente com essa coragem de alfinete, quem nos mandou a nós, ter um músculo cardíaco tão sensível à penetração dessas "naifazinhas" pontiagudas mas praticamente inocentes?

Eu por mim falo (o meu coração ainda não é um passador, mas já levou uma ou outra alfinetada): a mossa que fazem os alfinetes que me tocam o coração (como ainda não o mataram) é do grau de uma crostícula e vão tornando-o mais forte (e com mais crostas também, mas elas caem todas, como migalhas) e os passarinhos comem-nas. E pronto, fica resolvido.

Adiante. Quero ir deitar e pensar em física das partículas. Quero ir deitar e sonhar que a bandaid do meu coração foi o melhor remédio para ele sarar durante as próximas horas. Quero ir deitar e ao mesmo tempo ir afastando o Gaspar do monopólio de espaço que ele ocupa na minha cama (além do pêlo que larga - está safo pelo menos com ursos que fazem cocó atrás das árvores e se querem limpar depois - o Gaspar deixaria o rabo de qualquer urso numa lástima pegajosa). Quero perverter os acontecimentos recentes e sonhar que estou a abandonar um barco, a voltar para a zona de pé, a deixar a tripulação sem comandante, a correr para terra, a fugir sem olhar para trás.

E o mais engraçado de tudo isto é que eu estava a correr para a praia e o pobre vestido branco estava já verde das algas, já pegajoso da areia, já cortado (não sei bem porquê), já desfeito e para esse - coitado - um simples bandaid não remedeia coisíssima nenhuma. Ficaria por certo no lixo da praia a servir de fantasma do mar e seria porto de abrigo ambulante de vários cardumezinhos. Por isso, pronto, ele também se safava.

Afinal, acabou tudo bem?!

A estrear


A questão do nome do meu blog não tem muito que se lhe diga. Vi um quadro na feira de antiguidades da Rua de São Bento e achei a brincadeira de palavras bastante divertida. Era um quadro muito colorido, que mostrava à mesma escala um gato e um conjunto de prédios. Não decorei autor nem loja, foi um instantâneo fotográfico do género: este tipo esteve bem a escolher o título para a sua pintura - nada de fantástica devo acrescentar. Levou-me de imediato ao seguinte silogismo: se ele esteve genial na escolha do título (melhor que a obra), então o título só pode ter vindo primeiro.
Claro que a apropriação que faço do título de uma obra (que nem sei se será legal ou não) me mereceria à partida um pedacinho mais de consideração que aquela que demonstrei. Nestas situações, costumo safar-me dizendo para mim própria que, pelo menos, foste sincera. E por aqui fico. No entanto, se o autor da referida obra for vivo e tiver a sorte ou o azar de vir a dar de caras com o meu blog, desde já lhe apresento as minhas desculpas pela apropriação (indevida?) de um título por si criado, quanto a mim fantástico. Escuso-me a comentários relativamente à obra e a coisa fica por aqui.
Boa tarde, o meu nome é Catarina Sofia.