01/10/2006

O meu blogg é um bandaid



O penso rápido tem um nome demasiado comprido. Porque não adoptámos nós o estrangeirismo "bandaid" do género, olha, tenho o coração despedaçado, tu espera aí um nico só, que eu vou pôr aqui um bandaid no coração e isto melhora já, já. Infelizmente, não é assim que se passa e o problema é que o coração dói mesmo, caramba! Vocês nunca sentiram?

A nossa frase-tipo é como? Olha, despedaçaste-me aqui um bocadito o coração, tenho de ir pôr um penso rápido (mas alguém consegue ser rápido o suficiente quando diz penso rápido?) E porque não falar na garganta? A mim, mais do que o coração aos pulos, é a garganta que fica presa (um autêntico nó de gravata virado ao contrário e a puxar-me para trás); os músculos tremem um bocadinho e os olhos são os de um carneiro mal-morto (nem quero pensar na imagem de um carneiro mal morto e a olhar para nós a dizer: porquê - que coisa bárbara, meu deus).

Seria mais fácil era se não andássemos por aí, completamente à maluca (à maluca, não, que as pessoas não podem ser assim tão cruéis, eu eu pelo menos quero crer que não - que engraçado: gaguez na escrita, nunca tinha visto...) a despedaçar os corações aos outros. Até porque, bem vistas as coisas as pessoas não despedaçam, dão uns golpezinhos, vá umas alfinetadas, aquilo se jorrar algum sangue é só se acertar nalguma artéria de renome, senão nem a cor lhe vemos.

Por outro lado, mesmo que houvesse gente com essa coragem de alfinete, quem nos mandou a nós, ter um músculo cardíaco tão sensível à penetração dessas "naifazinhas" pontiagudas mas praticamente inocentes?

Eu por mim falo (o meu coração ainda não é um passador, mas já levou uma ou outra alfinetada): a mossa que fazem os alfinetes que me tocam o coração (como ainda não o mataram) é do grau de uma crostícula e vão tornando-o mais forte (e com mais crostas também, mas elas caem todas, como migalhas) e os passarinhos comem-nas. E pronto, fica resolvido.

Adiante. Quero ir deitar e pensar em física das partículas. Quero ir deitar e sonhar que a bandaid do meu coração foi o melhor remédio para ele sarar durante as próximas horas. Quero ir deitar e ao mesmo tempo ir afastando o Gaspar do monopólio de espaço que ele ocupa na minha cama (além do pêlo que larga - está safo pelo menos com ursos que fazem cocó atrás das árvores e se querem limpar depois - o Gaspar deixaria o rabo de qualquer urso numa lástima pegajosa). Quero perverter os acontecimentos recentes e sonhar que estou a abandonar um barco, a voltar para a zona de pé, a deixar a tripulação sem comandante, a correr para terra, a fugir sem olhar para trás.

E o mais engraçado de tudo isto é que eu estava a correr para a praia e o pobre vestido branco estava já verde das algas, já pegajoso da areia, já cortado (não sei bem porquê), já desfeito e para esse - coitado - um simples bandaid não remedeia coisíssima nenhuma. Ficaria por certo no lixo da praia a servir de fantasma do mar e seria porto de abrigo ambulante de vários cardumezinhos. Por isso, pronto, ele também se safava.

Afinal, acabou tudo bem?!

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