22/05/2007

Uma família feliz




Estive no Domingo a tentar fazer 25 Km BTT (Bicicletar tipo trotinete), que é mais ou menos o que eu faço nas descidas.

Estive no Domingo a caminho de muita coisa: a caminho de fazer uma corrida decente; a caminho de não ter medo de descer em curvas e terrenos sinuosos; a caminho de conseguir ter uma boa prestação nas subidas (que é ainda assim aquilo para que as minhas pernas obesas, servem mais ou menos).

Mas esqueçam. Não consegui nada. Fui ultrapassada por tudo e todos. Por uma rapariga que vomitava ao Km 4; por várias outras raparigas; por vários grupos de pessoas com furos complicados. Ainda houve um rapaz que teve a cegueira de espírito de me perguntar se eu já ia nos 50 Km. Primeiro achei que ele estava a brincar e brinquei também: "Sim, estou!". Respondi, sisuda. Depois, quando me perguntou para que lado era afinal, vi que a questão era séria: Meti-me ao caminho e disse: "Não sei, eu vou por aqui!" E fugi o mais depressa que pude.

Estive em Mafra. Em Mafra, na Tapada. Na tapada há javalis. Pouca gente que fez esta volta no Domingo fez as descidas com a cicleta na mão, certo? Logo, acredito que tinham menos tempo para olhar à sua volta e verem famílias. Famílias de javalis.
Mas eu tive esse tempo.
Eu desci muito com a bicicleta ao lado (e como custava descer, com a bicicleta a pedir mais velocidade e as minhas pernas a não permitirem, num passo de caracoleta gigante.
E deve ter sido como caracoleta que esta família me considerou.

Tinha acabado de acontecer a 1ª grande descida. As minhas amigas estavam lançadas, como toda a gente normal que prefere descer e não subir. Eu tinha desmontado e estava com a bicicleta ao meu lado, talvez com mais medo de cair a pé do que se estivesse montada nela.
Quando o terreno se torna mais plano novamente, subo novamente para a bike e começo uma zona da tapada, mesmo tapada.
Não tive tempo de muito mais: só de soletrar um não sei quê, tipo: Aiiiiiiiiiiiiiiiiii. Mas em vão.
A família feliz que passou à minha frente não me ligou puto. Pevas. Népias. Pensou: Esta caracoleta gigante, guincha.


São 11 horas e Belino Mastro quer ir almoçar. São 11 horas e 5 minutos e nem sinais de Zuca Salguedo ou de Pilão Salguedo Mastro. Belino guincha e clama pelo fecho das principais tocas. Zuca, mete umas fraldas a correr em Pilãozinho e os 3 saem atarantados de casa, a correr, e atravessam a estrada sem olhar para os lados e sem ver a caracoleta Catareta Marquise que, com mais uns segundos de pressa tinha tido um encontro um pouco menos que fatal com Belino.
Todos almoçaram, penso.
Até eu.
Desta família feliz guardo a sorridente memória de, desde aquele instante, me ter passado pela cabeça que tinham nomes e tudo, que iam ao supermercado comprar chouriços, que punham fraldas no menino e que faziam cruzeiros nas férias. Que comiam mel às patadas e faziam sudoku com tronquinhos. Que aparavam os dentes no higienista e depilavam as coxas. Que apanhavam táxis.

E depois acabou a corrida e depois cheguei eu.

No autocarro, a conversa mais banalizada era a da falta de javalis, neste ano.