Pequenos ditadores
Ando à procura de um livro chamado "Novos Tiranos", pelo menos a confiar na memória do prof. Wolfgang Lind.
Tenho procurado por todo o lado, mas nada. Já traduzi novos tiranos em quase todas as línguas à excepção de russo e chinês (e às tantas o livro é mesmo destas bandas orientais...) mas nada aparece pela Amazon.
Foi um fim de tarde excepcional, este passado com o prof. Wolfgang e a professora Arlette, na faculdade. Alemão e belga respectivamente.
Fomos para nos reunirmos com ela, para começarmos a pensar na ideia de fazermos um artigo sobre dislexia e propriocepção.
Mas acabámos todas a conversar e a rir muito com este alemão fantástico, vermelhinho e fumador dos 4 costados.
Um descobridor nato de pequenos interesses, que gosta de falar e de rir e de olhar muito para nós enquanto ri e fica muito vermelho.
Falámos de jesuítas, d' "O Grande Silêncio", de pais e filhos e dos resultados contraditórios que obteve da sua tese de doutoramento, sobre famílias bi-culturais, não necessariamente por esta ordem.
Enquanto isso, fumava muito, muito e amarelava ainda mais a sua barba amarela e as suas unhas acastanhadas.
Falámos de mesadas e de como ele ensinou o filho a deixar de ser pedinchão - controlando a sua mesada e negando-lhe um gelado, que o fez chorar por dentro, como pai.
Sabe hoje que a educação é um bem de longo prazo. E ao frio, a tremer de frio, senti-me outra vez aconchegada pelas conversas mais importantes do mundo: as que se têem nos corredores (ou na mesa do confim do corredor do 1º andar da minha faculdade).
Aprendi um pouco mais a ser mãe que hei-de ser. No frio de 2ª feira, estive a beber de um mestre numa conversa de café, que foi na realidade uma conversa erudita - quanto erudita pode ser uma conversa de risada forte e reflexão séria.
Mas, Wolfgang, preciso saber se o livro se chama mesmo assim.
Se te escrever um mail, de certeza que já te esqueceste que tivémos esta conversa na 2ª feira.
Tirano é o tempo e todos os tiranos são fabricados pelos seus submissos.
A conversa deve sempre acabar no auge, dissse antes de partir e de nos comprimentar com a sua barba fofinha e de desaparecer no branco sujo do corredor em espiral marmórea e metálica.