13/11/2006

De costas voltadas para o mundo


Senti-lo a vibrar, mesmo quando não toca. Desbloqueá-lo, só para olhar para o visor. Confirmar as horas por ele. Ser despertada por ele. Escrever notas e apontar-lhe tarefas para ele nos avisar. Receber e dele fazer comunicações para o resto do mundo. E agora que a necessidade está bem criada, pimba! ficar sem ele.

Ontem à noite, esqueci o meu telemóvel em lugar seguro, mas longe demais para poder regressar e ir buscá-lo. Pensamento imediato: levo outro telemóvel, comunico a troca de número e está tudo sob controlo. Eis senão quando o telemóvel suplente se queixa de fome eléctrica, faz birra e cai morto num silêncio de desmaio de fome.

Fiquei fechada para o mundo, como num casulo. Pensava em 1000 situações que poderiam estar a acontecer e que eu nunca poderia saber em tempo real.
Lembrei-me do nome do meu primeiro. O meu primeiro era um AEG, para aí com 250gr de peso e com uma antena retrátil. Chamavam-lhe sapatomóvel e durante muito tempo gozaram comigo de ter tal instrumento de comunicação. Ainda consegui mandar umas mensagens naquilo, lembro agora.
Depois tive um Nokia 3210, verde lima. Sempre longe do reboque das novidades, o meu 3210 aguentou-se até ao impossível. Mais tarde apareceu o SonyEricsson (versão cheia de flops, onde o 4 não funcionava e quando queria adormecia em total narcolepsia, sem dar cavaco). Depois de vários upgrades ao dito, deixei caí-lo na via pública e pouco depois...ganhou asas e voou.
Agora tenho um primo deste o T610, que não se está a aguentar nada mal. Olhando com atenção, vejo nele um formato semelhante ao primeiro sapatomóvel e ganhei-lhe estima por isso. Penso agora na resistência que fiz ao uso do telemóvel. Mantive-me fiel ao meu bip para aí até 1997, isto é, há 10 anos atrás, numa altura em que praticamente já toda a gente andava de mimo (o meu telemóvel engolia um cartão inteiro dentro dele, dá para imaginar?)
Quando regressei hoje para o ir buscar foi como ir à creche buscar o Francisco Pedro, o Teotónio Manuel, a Maria Francisca, a Constança. Peguei nele e inventariei as novidades que recebera durante a minha ausência, como farei de certo a um filho. Fiz 5 telefonemas seguidos (quase como fumar cigarros por compensação, será) e depois passou.
Agora está ao meu lado a recuperar a noite mal dormida. E eu senti-me virada de frente outra vez. Como deve ser.

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